Biografias

Fábio Carvalho


A produção artística do carioca Fábio Carvalho é resultado de uma reflexão sobre os elementos que constituem as expectativas e as representações do gênero masculino. Sua poética artística opera na superposição e no conflito entre signos aceitos por grande parte da sociedade de uma forma dicotômica: masculinos e viris de um lado, versus femininos do outro, delicado e sensível, em particular os padrões florais, as borboletas, a louça de porcelana, o bordado, as rendas, entre outras práticas normalmente consideradas femininas.

Vivemos tempos conturbados e retrógrados, onde a perseguição e censura aos comportamentos tidos como desviantes de um certo padrão conservador – aquele que cumpre com os estereótipos impostos por uma parcela antiquada de nossa sociedade, da “moral e bons costumes” – avança em marcha assustadora. Portanto, o artista entende como de grande importância, com sua produção artística, levantar um debate sobre questões de gênero, afetividade e sexualidade, e assim provocar a tradição ocidental patriarcal, e sua arraigada ideia de que há limites para o que constitui o gênero masculino.

Em seus trabalhos, o artista procura apontar as fragilidades ocultas por trás da máscara de homem viril bruto, e fazer pensar sobre como ao homem não é permitido um espaço onde ele possa dar vazão às suas vulnerabilidades, sendo obrigado a ser sempre forte, viril, imbatível, vitorioso. Visa ainda questionar estereótipos de masculinidade e a noção geral de que força e delicadeza, virilidade e poesia, vulnerabilidade e valentia são qualidades humanas impossíveis de existir lado a lado. Com sua produção, quer lembrar que não existe uma forma “correta” de ser homem, que na diversidade e variedade de comportamento, gosto, atitude, há muito mais força e riqueza do que na monotonia de um único padrão.


 Rick Rodrigues


O desenho é o ponto de partida na pesquisa plástica do artista.  Rick Rodrigues hibridiza diferentes meios, processos e materiais. São recorrentes nas séries do autor, desenhos inseridos sobre relevos, resultantes da fricção paciente sobre o verso do papel recorrendo simplesmente a uma caneta esferográfica que quebra as fibras do papel. Resultam dessa ação, elementos abstratos, de aparência rugosa, que ativam a imaginação remetendo a nuvens, formações rochosas, ao movimento das marés, ao rodopio de um furacão, entre outras imagens. É sobre os relevos do anverso do papel, que ocupam apenas uma parcela desse campo branco, que o autor insere os desenhos de pequenos objetos, cujos motivos parecem familiares à primeira vista: camas, cadeiras, mesas, armários, baús, gramofones, sofás, escadas, barcos, casas, caixas... Para elaborar tais desenhos recorre apenas ao uso de uma lapiseira e grafites coloridos 0.5mm, com os quais obtém sutis gradações de azul ou vermelho.

Rick dispõe de uma espécie de enciclopédia de fábulas e uma coleção de signos capazes de evidenciar sua infância, memórias afetivas, sonhos, desejos, perturbações, fragilidades e laços familiares, construções poéticas de referências surrealistas. Ora esses signos saltam do suporte e ganham terceira dimensão; a partir daí, o artista se compromete em criar delicadas instalações – universos particulares harmônicos, como o mesmo define. Um processo de hibridização que perpassam o desenho, escultura, apropriação e/ou ressignificação e criação de objetos. Obras que desvelam pequenos mundos dentro de outros mundo se criam narrativas enviesadas.

O artista elabora já há algum tempo, delicados bordados sobre lenços de algodão, morim, sacolas plásticas, papéis e fitas acetinadas. Tal missiva foi passada do irmão mais velho, ainda na infância, quando Rick observava-o costurar couro no sítio de seus avós maternos. Quando produz desenhos bordados, Rick dá vida a pássaros, meninos com cabeças de ramos de flores multicoloridas e a seus escritos que insistem em cruzar as tramas dos tecidos; linguagem poética na qual sobressai o gesto e a memória individual.


 Rodrigo Mogiz


Rodrigo Mogiz trabalha no limiar entre a pintura e o desenho. O bordado, que é seu trabalho mais bem estruturado, entra nessa intercessão. Rodrigo Mogiz começou a bordar porque queria partir de algo pessoal e afetivo. 

Havia ainda o interesse por figuras de modelos de páginas de revista de moda e anúncios publicitários. Fazer desenhos destes modelos através de agulha e linha provoca um belo estranhamento, pois percebemos que esse ideal de beleza vendido como perfeito foi reconstruído através de um bordado sem técnica, considerado pela tradição como imperfeito, “mal feito”.

A partir daí o artista se apropria dessas imagens de moda que mostram alguma beleza ou que passam algum significado, explorando questões afetivas e sexuais das formas mais diversas. Através de conexões e sobreposições, Rodrigo Mogiz procura estabelecer narrativas entre as figuras bordadas em várias camadas de tecido.

O artista usa essencialmente a entretela como suporte, mas vem buscando outros materiais translúcios para criar as velaturas. Sua estratégia é primeiro atrair o olhar, e para isso abusa do uso de materiais que "enfeitem" seus bordados: miçangas, pedrarias, rendas, alfinetes, dentre outros materiais de costura.

Porém, após esse primeiro contato, se percebe o que de inquietante o artista quer mostrar sobre as relações humanas. Rodrigo Mogiz tem como referência em seu trabalho o literário. Com as narrativas que explora é como se quisesse contar histórias, mas acaba por deixar para que as pessoas criem essas histórias, e façam suas próprias conexões pessoais.